CHO: chefes do serviço de urgência do Hospital das Caldas da Rainha pedem demissão

Os chefes da equipa do serviço de urgência do Hospital das Caldas da Rainha pediram na última sexta-feira a demissão do cargo, informou a administração do Centro Hospitalar do Oeste (CHO), que assegurou que o serviço está a funcionar normalmente.

Numa nota enviada à nossa redação, a administração do Centro Hospitalar diz ter recebido, na noite da passada quinta-feira, a carta de intenção de demissão dos chefes de equipa daquele serviço, assim como um pedido para o seu encerramento. No entanto, explica, as demissões “respeitam apenas ao cargo de gestão de chefia de urgência e não ao exercício das funções clínicas”, pelo que a equipa “continua a assegurar o normal funcionamento” do serviço.

Assim, os clínicos mantêm-se em funções, “providenciando todos os cuidados inerentes ao funcionamento do serviço”, depois de um aumento na afluência às urgências do Hospital das Caldas da Rainha ter causado constrangimentos no socorro aos doentes pelos bombeiros locais.

Na nota, o Conselho de Administração do CHO reitera a “total abertura para resolver as questões de organização interna e distribuição de serviço, informando que mantém os canais de diálogo e a procura de soluções.

Para o início desta semana está marcada uma reunião com os médicos visados, “no sentido de serem encontradas soluções e na expetativa de que as dificuldades sentidas, ao nível de recursos humanos, possam ser ultrapassadas”.

Já na quinta-feira, os bombeiros das Caldas da Rainha e de Óbidos ficaram sem ambulâncias disponíveis e a necessitar de recorrer a corporações vizinhas para assegurar o socorro, devido à elevada afluência de doentes à urgência hospitalar, que tem retido macas.

Na altura, a presidente do Conselho de Administração do CHO, Elsa Baião, explicou que tem havido uma “afluência excessiva” às urgências, lembrando que, por ter a funcionar a urgência geral e a Área dedicada a Doentes Respiratórios, devido à pandemia de Covid-19, existe a duplicação de equipas e meios nas urgências dos hospitais.

Apesar de o CHO ter realizado uma parceria com os centros de saúde para reencaminhar doentes menos urgentes, a quem são atribuídas as pulseiras verdes e azuis na triagem, “não tem havido grande adesão e as pessoas continuam a recorrer às urgências hospitalares”, justificou.

Internistas justificam demissão com incumprimento dos “critérios mínimos de segurança”

Os médicos internistas do Hospital das Caldas da Rainha justificam o seu pedido de demissão com o facto de não poderem continuar a compactuar com o não cumprimento dos “critérios mínimos de segurança”.

De acordo com o Portal Sapo, que cita a Agência Lusa, num manifesto assinado pelos 23 internistas e internos, “a situação limite, do ponto de vista de sobrecarga de trabalho e de qualidade assistencial, tem sido uma constante nos últimos tempos. Mas, neste momento, é absolutamente dramática, desesperante e totalmente inaceitável”, referem.

A decisão de se demitirem irá manter-se “na ausência de níveis de segurança mínimos”, que consideram ser quatro internistas durante o dia e três durante a noite e dois médicos “de balcão” (indiferenciados) durante o dia e noite. Até isso acontecer, não vão assumir as suas funções, nem vão receber “o banco dos colegas” que deveriam render, garantem.

Os médicos dizem estar no limite das suas “capacidades físicas e mentais, exaustos, desanimados, desgastados, desmotivados, mas sobretudo em sofrimento ético e em risco profissional”, porque, na sua profissão, “o erro mata”.

“Na ausência de resposta às nossas revindicações atuais, novas medidas serão assumidas em conjunto por todos os internistas desta casa. Se a Medicina Interna sucumbir, o hospital desmorona-se”, sublinham no manifesto.

No documento, é explicado que a Medicina Interna da Unidade de Caldas da Rainha assegura a enfermaria de Medicina de Caldas (25 camas), a enfermaria de Medicina de Peniche (28 camas), a enfermaria Covid (11 camas), a Unidade de Hospitalização Domiciliária, consultas externas, Hospital de Dia e as escalas de urgência externa e interna.

“Neste momento, estão duas urgências em funcionamento separadas fisicamente. E, a partir das 20h, é a equipa do serviço de urgência que assegura a assistência a todos os doentes internados no hospital”, referem.

Os médicos explicam ainda que “esta unidade não tem Unidade de Cuidados Intermédios, nem Cuidados Intensivos, o que implica transferências frequentes para outras unidades hospitalares”, uma situação que também “requer equipa médica nas transferências”.

Segundo os profissionais, “o serviço de urgência está em rutura completa”, não estando a ser asseguradas “as condições mínimas de qualidade assistencial, nem de segurança, nem para os profissionais de saúde, nem para os doentes”.

“O excesso de doentes que recorrem e permanecem indevidamente no serviço de urgência, as escalas persistentemente incompletas – sem cumprirem os mínimos aceitáveis – o desvio frequente de doentes fora de área (nomeadamente de Torres Vedras) e a proibição de transferir doentes para os seus hospitais de origem, são alguns dos inúmeros problemas identificados”, acrescentam.