Em ano de centenário, Cesariny foi recordado – e declamado -, na segunda noite de Livros a Oeste

“Burgueses somos nós todos”. O verso do poema ‘Raio de luz’, de Mário Cesariny de Vasconcelos, serviu de mote para a segunda conversa da noite, esta quarta-feira (10 de maio), no Festival Literário Livros a Oeste. Fernando Cabral Martins, Rita Ferro e Rui Cardoso Martins estiveram à conversa com o programador, João Morales.

Para Fernando Cabral Martins, académico e investigador ligado ao surrealismo, Cesariny é o exemplo de que “o surrealismo não é só literatura e poesia, é a arte”.

“Mário Cesariny e o Virgem Negra” dá nome ao livro de Fernando Cabral Martins, que, diz João Morales, “estabelece um paralelismo entre [Fernando] Pessoa e [Mário] Cesariny”. Fernando Cabral Martins considera que o surrealismo é uma “imediata consequência” da leitura da obra de Fernando Pessoa. E explica o porquê.

Burgueses e snobs

Há alguma ligação entre os burgueses e os snobs? A questão é de João Morales, dirigida a Rita Ferro, que lançou, recentemente, o livro “O Brevíssimo Dicionário dos Snobs”. Falamos de um livro que se debruça sobre o léxico usado por um determinado tipo social. Um “livro atípico”, diz a autora, tendo em conta o vasto leque de romances por si já publicados.

O termo snob vem do latim – sine nobilitais – e era utilizado nas universidades para identificar os estudantes que não tinham títulos. Entretanto, o termo já evoluiu, fruto da evolução da língua, diz a autora, entre risos.

O vizinho Cesariny

Na adolescência, Rui Cardoso Martins deixou Portalegre, rumo a Lisboa, para estudar. Ontem, à conversa com João Morales, recordou o tempo que viveu na capital, numa rua que respirava poesia, não fosse Mário Cesariny seu vizinho.

Em todas as ruas te encontro, em todas as ruas te perco”.

Mário Cesariny de Vasconcelos

O trecho é do poema de Mário Cesariny de Vasconcelos, “Poema”, “um dos poemas mais bonitos da literatura portuguesa”, considera Rui Cardoso Martins. Um poema de amor desesperado que o guionista e romancista utilizou numa série, por si escrita, transmitida na RTP1: Causa Própria.

A 11.ª edição do Festival Literário Livros a Oeste decorre até ao próximo sábado, dia 13, na Lourinhã. Esta tarde, às 17h, a iniciativa ‘Os Cantos das Palavras’ ruma ao Centro Coordenador de Transportes da Lourinhã, desafiando o público a ler poesia. No Centro Cultural Dr. Afonso Rodrigues Pereira, às 18h30, há uma projeção e conversa com Ricardo Leite, realizador da curta-metragem “A Instalação do Medo”. Mais tarde, às 21h30, no mesmo local, juntam-se a João Morales Ana Paula Tavares, Manuel S. Fonseca e José Luiz Tavares, para uma conversa sob o mote “Afinal o que importa não é a vida nem é a morta. E Zás comeu-a”.