São Lourenço dos Francos: escavação já permitiu descobrir dois elementos de grande interesse arqueológico

“As escavações arqueológicas são como as melancias. Só depois de abertas é que sabemos o que está lá dentro”. Quem o diz é Gerardo Gonçalves, arqueólogo e coordenador do projeto arqueológico que está a decorrer em São Lourenço dos Francos, em Miragaia, na União das Freguesias de Miragaia e Marteleira.

O projeto, que tem a duração de três anos, pretende, numa primeira fase, avaliar o potencial arqueológico e patrimonial do sítio, possibilitando a sua valorização e promoção. As escavações arrancaram na semana passada e, segundo o coordenador da escavação arqueológica, existem registos da presença romana no sítio.

Em sete dias, a equipa conseguiu recolher 356 artefatos. Entre eles estão moedas, asas de jarros e alguns fragmentos de taças e pratos. Gerardo Gonçalves destaca a descoberta de dois elementos de grande interesse arqueológicos. Entre eles, revelou o arqueólogo, estão duas lápides.

A equipa que compõe o projeto descobriu também duas lagaretas. Lagaretas “especiais”, sublinha Gerardo, raras de encontrar.

São Lourenço dos Francos acessível por rio?

O coordenador do projeto arqueológico considera que, “muito provavelmente”, o sítio de São Lourenço dos Francos terá sido acessível por rio. Uma hipótese explicada pelo nível do mar que, na época romana, era superior ao atual.

Para além da escavação, os trabalhos de arqueologia a realizar passam ainda por um inventário, classificação e desenho de artefatos e materiais arqueológicos, implementação das novas tecnologias da informação em Sistemas de Informação Geográfica e fotogrametria e modelos digitais de estruturas e artefatos. Até então, no que à escavação diz respeito, foram retirados perto de 24 metros cúbicos de terra.

João Serra, vereador no município da Lourinhã, destaca a importância deste sítio arqueológico para o concelho.

No âmbito da escavação que já está a decorrer vão acontecer visitas ao local, workshops e várias atividades dirigidas à população. Nestas visitas, os participantes podem ficar a conhecer melhor a arqueologia, enquanto ciência que estuda as culturas e os modos de vida das diferentes sociedades humanas, as novidades arqueológicas e o esclarecimento de questões sobre o património e o sítio arqueológico em si. Uma forma, diz o autarca, “[da população] ficar a conhecer o espaço, com vontade de o divulgar e proteger”. A primeira visita aberta à escavação acontece esta sexta-feira, dia 15, entre as 10h e as 13. A atividade volta a repetir-se a 20 e 27 deste mês.

A igreja de São Lourenço dos Francos é um templo rural do século XVI, com características da arquitetura do renascimento rural estremenho. É de uma só nave, com alpendre de três águas sob a porta principal, com larga abertura frontal, sustentado por colunelos assentes em murete. Todo o interior da nave é revestido a azulejo seiscentista de tipo “Tapete”, tal como o batistério do século XVII onde se encontra uma pia batismal quinhentista, de pedra circular. O retábulo do altar-mor, do século XVIII, é decorado com colunas salomónicas em talha dourada que ladeiam o trono.

Possui um invulgar sacrário redondo e duas imagens em pedra policromada, também quinhentistas, de S. Lourenço e S. Martinho. Na parede à esquerda do púlpito, um registo em azulejo policromado do século XVII mostra dois anjos adorando a custódia com partícula. Em 1737 foi acrescentada a capela-mor e suas nas cabeceiras exteriores foram colocadas duas lápides, incorporadas nos cantos, dedicadas a Júlia Máxima e Caio Júlio Lauro e que testemunham a romanização da região. A frontaria é de empena em bico, ladeada por torre sineira e telhado de duas águas.